A cultura do desperdício não se deve aplicar à vida espiritual
"A
alma farta pisa o favo de mel, mas à alma faminta todo o amargo é doce"
(Provérbios 27. 7).
No momento de fartura muitas vezes ficamos acomodados podendo escolher entre o
que comer e o que descartar. Somos tentados a desfazer de bens ou objetos de
valor, às vezes até por não termos onde coloca-los.
O desperdício é comum e não valorizamos, na verdade nem sabemos exatamente
aquilo que temos. Joga-se fora preciosidades como se fossem sucatas, simplesmente
para desocupar o espaço para algo novo que vai chegar. Temos excesso e não
podemos manter objetos velhos e obsoletos que julgamos desnecessários e
inúteis.
Vivemos este tempo com as facilidades, graças a globalização que nos permite
ter acesso a diferentes bens de consumo. Lembro-me da primeira camiseta que
ganhei. Foi uma festa e uma emoção muito grande. Hoje, compra-se camisetas por
centavos nos chamados "Brechós". Isto aparentemente é muito bom, mas,
obviamente, tem o seu lado ruim. Afinal, há algo implícito em tudo isto que um
dia veremos.
Com toda esta mania de desperdício e descarte, o ser humano se encheu de vento
e num momento acabou desvalorizando não só os objetos, mas, sobretudo, pessoas
e princípios. Na onda da globalização, do consumo exagerado, muitas pessoas
também são "consumidas" e já não se dão mais o devido valor. A alma
está farta e pisa o favo de mel. Vivemos a cultura do consumo, do desperdício,
do gasto desenfreado. Nos esquecemos que o período das "vacas gordas"
vai passar, portanto precisamos armazenar para quando chegar o período das
"vacas magras". Gastar é bom, mas poupar é muito melhor. Afinal, a
vida é cheia de imprevistos e precisamos estar preparados para quando eles
chegarem.
Na nossa vida espiritual também acontece assim. Podemos aplicar este provérbio
salomônico ás nossas vidas. Quantas vezes nos sentimos fartos e nos achamos
melhores do que os nossos irmãos e iguais a Deus. Sabemos tudo e podemos todas
as coisas. As vezes, ao invés de pedir ajuda a Deus, supomos que Ele é quem
precisa de nossa ajuda. E às vezes dizemos: eu vou contribuir para ajudar a
igreja, quando na verdade a contribuição é um dever e um prazer para o cristão
obediente à Palavra de Deus. Pisamos o favo de mel (a Palavra)quando deveríamos
nos alimentar dela. "Oh! quão doces são as tuas palavras ao meu paladar!
mais doces do que o mel á minha boca." (Salmos 119. 103). Nos sentimos
importantes e fartos, temos dinheiro, podemos consumir à vontade... Cultos de
oração e escolas dominicais são para "outros crentes". Ficar de
joelhos orando ou sentados ouvindo aquele "professorzinho", isto não
é para mim. Cantar aqueles hinos antigos jamais! Hoje é música gospel com outro
ritmo e outra roupagem musical. Quantas vezes chorei na presença de Deus
cantando "Oh, quão cego andei e perdido vaguei, longe, longe do meu
Salvador". E até hoje este é um de meus hinos preferidos. "À alma
faminta todo o amargo é doce".
Hoje o consumo é geral, tomou conta de quase todos. Nem precisa mais de
dinheiro nem de cheques, agora temos o dinheiro de plástico, os cartões de
crédito e se pode comprar de tudo pela internet. Ainda que isto seja um avanço,
algo fundamental, não deve ser aplicado à nossa vida espiritual. Meia hora de
joelhos na presença do Senhor vale muito. "Porque vale mais um dia nos
teus átrios do que em outra parte mil". (Salmos 84.10a). O mundo está
desperdiçando tudo, jogando fora a oportunidade, talvez única que está tendo.
Como cristãos, vamos aproveitar este momento e armazenar para quando chegar os
sete anos das "vacas magras". Na presença do Senhor nos enchemos do
óleo santo e armazenamos mais para quando o Noivo Amado chegar.
Por Cícero Alvernaz
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