A graça de Deus, favor imerecido
A salvação do homem é vista pelas religiões do mundo inteiro apenas de dois
modos: o homem é salvo pelos seus méritos ou pela graça de Deus. A salvação é
um caminho aberto pelo homem da terra ao céu ou é resultado do caminho que Deus
abriu do céu à terra. O homem constrói sua própria salvação pelo seu esforço ou
recebe a salvação como dádiva imerecida da graça divina. Não existe um caminho
alternativo nem uma conexão que funde esses dois caminhos. É impossível ser
salvo ao mesmo tempo pelas obras e pela graça; chegar ao céu pelo merecimento
próprio e ao mesmo tempo através de Cristo.
A soberana graça de Deus é o único meio pelo qual podemos ser salvos. Os
reformadores ergueram a bandeira do Sola Gratia, em oposição à pretensão do
merecimento humano. Queremos destacar quatro pontos importantes no trato dessa
matéria.
1. A graça de Deus é um favor concedido a pecadores indignos. Deus
não nos amou, escolheu, chamou e justificou por causa dos nossos méritos, mas
apesar dos nossos deméritos. A causa da salvação não está no homem, mas em
Deus; não está no mérito do homem, mas na graça de Deus, não está naquilo que
fazemos para Deus, mas no que Deus fez por nós. Deus não nos amou porque éramos
receptivos ao seu amor, mas amou-nos quando éramos fracos, ímpios, pecadores e
inimigos. Deus nos escolheu não por causa da nossa fé, mas para a fé; Deus nos
escolheu não porque éramos santos, mas para sermos santos; não porque
praticávamos boas obras, mas para as boas obras; não porque éramos obedientes,
mas para a obediência.
2. A graça de Deus é concedida não àqueles que se julgam merecedores,
mas àqueles que reconhecem que são pecadores. Aqueles que se aproximam
de Deus com altivez, cheios de si mesmos, ostentando uma pretensa espiritualidade,
considerando-se superiores e melhores do que os demais homens, são despedidos
vazios. Porém, aqueles que batem no peito, cônscios de seus pecados, lamentam
sua deplorável condição e se reconhecem indignos do amor de Deus, esses
encontram perdão e justificação. A graça de Deus não é dada ao homem como um
prêmio, é oferta imerecida; não é um troféu de honra ao mérito que o homem
ostenta para a sua própria glória, mas um favor que recebe para que Deus seja
glorificado.
3. A graça de Deus não é o resultado das obras, mas as obras são o
resultado da graça. Graça e obras estão em lados opostos. Não podem
caminhar pela mesma trilha como a causa da salvação. Aqueles que se esforçam
para alcançar a salvação pelas obras rejeitam a graça e aqueles que recebem a
salvação pela graça não podem ter a pretensão de contribuir com Deus com suas
obras. A salvação é totalmente pela graça, mediante a fé, independente das
obras. As obras trazem glória para o homem; a graça exalta a Deus. A graça
desemboca nas obras e as obras proclamam e atestam a graça. As obras são o
fruto e a graça a raiz. As obras são a consequência e a graça a causa. As obras
nascem da graça e a graça é refletida através das obras.
4. A graça de Deus é recebida pela fé e não por meio das obras.
A salvação que a graça traz em suas asas é recebida pela fé e não por meio das
obras. Não somos aceitos diante de Deus pelas obras que fazemos para Deus, mas
pela obra que Cristo fez por nós na cruz. A fé não é meritória, é dom de Deus.
A fé é o instrumento mediante o qual tomamos posse da salvação pela graça. O
apóstolo Paulo sintetiza este glorioso ensino, em sua carta aos Efésios:
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de
Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele,
criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou
para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10).
Rev. Hernandes Dias Lopes
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