A Cabana Caiu
Por Thomas
Tronco dos Santos
Recentemente
as igrejas evangélicas foram inundadas por exemplares do livro “A Cabana”, do
canadense William Paul Young, filho de missionários em Papua Nova Guiné e
formado em religião em Portland, no estado do Oregon, EUA.
Apesar de ser um livro que, segundo o
autor, foi escrito para seus filhos, ele tem assumido um lugar entre os livros
didáticos que tratam das Escrituras e de Deus.
Além
disso, não apenas o meio eclesiástico tem sentido a influência da
estória de Young, mas também o meio secular. Diários famosos e
conceituados como o “New York Times”, o “Washington Post” e o “USA
Today”, deram atenção à obra e publicaram matérias reveladoras sobre seu
impacto e alcance.
Sempre
que uma obra toma esse vulto, principalmente dentro da igreja, os pastores têm
a responsabilidade de analisá‐la com cuidado e atenção. Dispus‐me a fazer
exatamente isso. Adquirir o livro não foi nenhum problema, pois está sendo
vendido até mesmo em lojas de produtos eletrônicos. Depois de comprado, não foi
nem difícil, nem demorado encontrar algum irmão que, notando o livro em minhas
mãos, demonstrasse sua satisfação em me ver compartilhando com ele tal
experiência. Depois de concluída a leitura, busquei ainda conhecer a reação de
algumas pessoas ao livro. Dentre eles, um jovem disse ter notado algumas coisas
estranhas que não entendeu muito bem, mas que, apesar disso, achou a leitura
fantástica e empolgante. Um professor de Teologia de uma faculdade teológica de
outro estado relatoume que a obra é positiva na quebra da visão machista sobre
Deus e sobre o relacionamento da Trindade, além de fazer eco às aspirações
populares por “formas religiosas mais palatáveis, diferentes da religiosidade
oferecida pela religião oficial, normalmente baseada em tradições, moralismos e
proibições.”
O
LIVRO
Toda
essa inquietação e euforia no meio evangélico é fruto de uma estória em que o
personagem principal perde sua filha mais nova em um seqüestro e assassinato
por um assassino de meninas. Esse fato horrível abre nele um espaço para o que
chama de “Grande Tristeza” e um relacionamento frágil com Deus, a quem culpa por não evitar a tragédia. Isso
perdura até que o próprio Deus o convida a voltar à cena do crime, uma velha
cabana nas montanhas, e se apresenta a ele como uma cozinheira negra (Deus, o
Pai), um carpinteiro israelita (Jesus) e uma mulher oriental (o Espírito
Santo). Depois desse inusitado encontro, o que era uma narrativa envolvente se
torna uma exposição das impressões e convicções do autor sobre as pessoas
divinas dentro da Trindade, sobre o relacionamento entre eles e em relação aos
homens, a condição humana, a salvação, a igreja, as Escrituras e a situação de
Deus diante do mal.
Uma
das primeiras coisas que notei ao chegar ao capítulo 5 do livro, onde realmente
a visão do autor sobre Deus começa a ser exposta, é o desejo de quebrar
paradigmas. O autor parece desconfortável com a visão sobre Deus e sua
personalidade. Quando Young relata o espanto de Mack, um cristão criado dentro
da igreja desde pequeno, com seu encontro com duas pessoas da Trindade em forma
de mulheres, não acredito que o autor tenha tais concepções, as creio que
seu desejo é que os leitores achem antiquada a postura de acolher conceitos
tradicionais. O Pai, no livro, explica: “Para mim, aparecer como mulher e
sugerir que você me chame de Papai é simplesmente para ajudá‐lo a não sucumbir
tão facilmente aos seus condicionamentos religiosos.” Parece que o autor
considera as visões tradicionais sobre Deus como “estereótipos” que não devem
ser encorajados e como “idéias preconcebidas” nas quais Deus não se
encaixa. Em pouco tempo, Mack se dá conta de que “nada do que estudara na
escola dominical da igreja estava ajudando” a compreender o Deus que
estava diante dele. Parece ser sugerido que o leitor deve ficar aberto a novos
conceitos. O conselho do Espírito Santo a Mack é: “Verifique suas percepções e
além disso verifique a verdade de seus paradigmas, dos seus padrões, daquilo em
que você acredita. Só porque você acredita numa coisa não significa que ela
seja verdadeira. Disponha‐se a reexaminar aquilo em que você
acredita.” Assim, novos conceitos são inseridos.
ESCRITURAS
Um
desses conceitos é uma visão depreciativa sobre o ensino bíblico. Por diversas
vezes as Escrituras, ou o ensino eclesiástico das Escrituras, é citado em
contraposição a uma nova verdade apresentada pelas pessoas da Trindade.
Exemplo disso é que Mack, apesar de ser umcristão que sempre vai aos cultos e
recebe instrução bíblica, se dá conta de que não conhece Jesus como achava que
conhecia. Diante disso, Jesus lhe transmite um conhecimento que nunca antes lhe
foi ensinado: “Deus que é base de todo ser, mora dentro, através e em volta de
todas as coisas, e emerge em última instância como o real. Qualquer aparência que
mascare essa verdade está destinada a cair.” A Bíblia, que certamente não
apresenta essa versão “panteísta” ou “panenteísta” da Divindade, fatalmente se
torna alvo dessa afirmação. Na verdade, ela sofre a sugestão de ser um
instrumento que não contém a verdade, mas que é usado por Deus devido à
complexidade da situação humana depois de se afastar dele. O Pai, ao responder
por que se “revela” de modo paterno, diz: “Assim que a Criação se degradou, nós
soubemos que a verdadeira paternidade faria muito mais falta que a
eternidade.” Assim, Mack percebe que ao sair da escola dominical, onde as
Escrituras são ensinadas, freqüentemente tinha “as respostas certas”, mas que
isso não fazia que ele conhecesse a Deus. Fica sugerida a idéia de que a
Bíblia contém inverdades devido às limitações e carências do homem. Entretanto,
há verdades além dela que o homem que se relaciona com Deus pode alcançar. Por
isso, no momento em que Deus fala a Mack sobre verdades nunca antes por ele
imaginadas, explica em tom depreciativo: “Aqui não é a escola dominical. É uma
aula de vôo.”
IGREJA
A
igreja é mais uma vítima da obra de Young. Sob a égide da religião ela é
acusada de manipular os fiéis por causa da cobiça e desejo de poder dos seus
líderes. Como instituição ela é fonte de contrariedades para Jesus, que
afirma: “Eu não crio instituições. Nunca criei, nunca criarei.” Para que
não fique dúvidas sobre o sentido dessas palavras, Jesus completa em meio a uma
expressão sombria: “Não gosto muito de religiões e também não gosto de política
nem de economia... E por que deveria gostar? É a trindade de terrores criada
pelo ser humano que assola a Terra e engana aqueles de quem eu gosto.” Ao
vislumbrar com assombro tudo o que aprendeu no passado, Mack exclama: “Quantas
mentiras me contaram!” Jesus completa a decepção de Mack respondendo uma
pergunta sobre o significado de ser cristão com as palavras: “Quem disse alguma
coisa sobre ser cristão? Eu não sou cristão.” Um dos motivos do desprezo
de Deus pela estrutura eclesiástica seria a presença nela de uma hierarquia, ou
uma “cadeia de comando”, o que, mesmo na divindade, parece ser um conceito
“medonho” e um relacionamento “opressivo.” Jesus explica que a autoridade
“é meramente a desculpa que o forte usa para fazer com que os outros se
sujeitem ao que ele quer.” E completa dizendo: “É um sistema humano. Não
foi isso que eu vim construir... Por mais bem intencionada que seja, você sabe
que a máquina religiosa é capaz de engolir as pessoas!”
SALVAÇÃO
UNIVERSAL
Salvação
universal, ou universalismo, é outra idéia apresentada por Young. Significa que
todos, sem exceção, serão salvos por Cristo. Diferente de outros pontos, este
se mostra clara e abertamente no livro e começa a se delinear quando Mack se
surpreende ao ver o grande amor do Pai pelas pessoas. Diante disso ele pergunta
se há alguém de quem o Pai não goste. A resposta é: “Não, não consigo encontrar
ninguém. Acho que sou assim.” Isso sugere, que Deus se relaciona bem com
todos os seres humanos independente de qualquer condição. Entretanto, o que é,
a princípio, apenas uma sugestão, se expande quando Jesus é questionado se
todas as estradas levam a ele. Jesus responde que, no processo de tornar as
pessoas filhos e filhas do Pai, “a maioria das estradas não leva a lugar
nenhum. O que isso significa é que eu viajarei por qualquer estrada para
encontrar vocês.” Assim, em meio a um certo sarcasmo, explica: “Os que me
amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas
ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte
de qualquer instituição religiosa.” Apesar da clareza com que o
universalismo é exposto aqui, o autor parece não ficar satisfeito e deseja
garantir que atingiu seu objetivo. Assim, o Pai diz a Mack que “a morte dele
[Jesus] e sua ressurreição foram a razão pela qual eu agora estou reconciliado
com o mundo.” Mack pergunta: “Com o mundo inteiro? Quer dizer, com os que
acreditam em você, não é?” O Pai responde: “Com o mundo inteiro.” Dito
isso, explica que cabe ao homem apenas escolher se quer ou não se relacionar
com Deus: “Em Jesus eu perdoei todos os humanos por seus pecados contra mim,
mas só alguns escolheram se relacionar comigo.” Em lugar de salvação, o
livro “A Cabana” dá ênfase ao relacionamento com Deus. Estando todos os homens
salvos, o que resta é terem união com a Divindade. O Pai deixa isso claro
dizendo: “A liberdade é um processo que acontece dentro de um relacionamento
com ele [Jesus].” Segundo Young, esse relacionamento pode ter muitas vias,
mas a melhor delas é Jesus, que diz: “Eu sou o melhor modo que qualquer humano
pode ter de se relacionar com Papai [o Pai] ou com Sarayu [Espírito
Santo].” Questionado sobre como um homem pode fazer parte da Igreja de
Deus, Jesus responde: “É simples, Mack.
Tudo
só tem a ver com relacionamentos e com o fato de compartilhar a vida.” O
relacionamento que o autor apresenta é muito convidativo. Deus é alguém
agradável, bem‐humorado e de fácil convivência. Entretanto, o relacionamento
apresentado segue um modelo onde não há diferença entre os participantes. Deus
é um grande amigo, mas não é Senhor. Deus é irmão, mas não é Rei. Deus é
amoroso, mas não é soberano. O Pai explica: “Criamos vocês, os humanos, para
estarem num relacionamento de igual para igual conosco e para se juntarem ao
nosso círculo de amor.” Deste modo, a falta de fé não é o que impede a
união do homem com Deus, mas a falta do conhecimento que possibilite o
relacionamento. Sob essa ótica, o Pai aponta o “verdadeiro” problema: “A verdadeira
falha implícita na sua vida... é que você não acha que eu sou bom. Se soubesse
que eu sou bom e que tudo... é coberto por minha bondade... confiaria em mim...
A confiança é fruto de um relacionamento em que você sabe que é amado.
Como você não sabe que eu o amo, não pode confiar em
mim.” “Não sou um valentão nem uma divindade egocêntrica e exigente que
insiste que as coisas sejam feitas do jeito que eu quero.” Essas frases
realmente enchem os corações daqueles que desejam um relacionamento sem compromissos
com o Senhor. É o anseio de quem deseja os benefícios da amizade de Deus sem
ter que se amoldar ao seu caráter ou à sua vontade para tanto. Não há submissão
do homem a Deus. Jesus diz: “Submissão não tem nada a ver com autoridade e não
é obediência. Tem a ver com relacionamentos de amor e respeito. Na verdade
somos
igualmente
submetidos a você.”
CONDUTA
E CONDENAÇÃO
Duas
idéias desprezadas por Young são a existência de um padrão de conduta para os
que se relacionam com Deus e a condenação daqueles que não seguem o caminho
estipulado pelo Senhor. Para transmitir essa opinião, a narrativa expõe o Pai
dançando e se remexendo ao som da música de uma banda de nome Diatribe, cujo
significado é de um discurso crítico e agressivo vindas de uma postura rebelde.
Mack, surpreso, diz que isso não parece muito religioso. O Pai, ainda
bamboleando e batendo palmas, responde: “Ah, acredite: não é. É mais tipo funk
e blues eurasiano, com uma mensagem fantástica.” Sobre a tal mensagem
fantástica, explica: “Esses garotos não estão dizendo nada que eu já não tenha
ouvido antes.
Simplesmente são cheios de vinagre e gás. Muita raiva e, devo
dizer, com um bocado de razão. São apenas alguns dos meus meninos se mostrando
e fazendo beicinho.” A aceitação divina para a postura rebelde e raivosa
de tais rapazes nos remete aos conceitos da pós‐modernidade sobre a validade e
veracidade de todas as idéias, gostos e posturas. Não há absolutos. Nesse caso,
parece que para Deus também não. Ele é capaz de se “entrosar” com qualquer tipo
de atitude. Isso fica expresso quando Jesus reprova os julgamentos éticos e
morais, qualificandoos uma como tentativa humana de firmar sua independência de
Deus. Ele diz: “Ao optar por definir o que é bom e o que é mau, vocês buscam
determinar seu próprio destino. Foi essa reviravolta que causou tanta
dor.” “Você deve desistir de seu direito de decidir o que é bom e ruim e
escolher viver apenas em mim.” Assim, qualquer postura ou procedimento que
o homem decidir ter, Deus aceita.
O erro
não está em agir mal, mas em julgar as ações. A sabedoria de Deus,
personificada em uma mulher de nome Sophia, diz: “Julgar exige que você se
considere superior a quem você julga.” Deus não nutre expectativas a
respeito do homem. Por conhecer o futuro, Deus não tem necessidade de ter
expectativas. Diz o Pai: “Por que teria uma expectativa diferente daquilo que
eu já sei. Seria idiotice. E, além disso, como não a tenho, vocês nunca me
desapontam.” A conseqüência disso é a sensação no homem de “um grande alívio,
porque elimina qualquer exigência de comportamento,” explica Jesus.
Por
não haver qualquer tipo de exigência de Deus sobre a humanidade, também não há
qualquer tipo de reprovação ou condenação. Não há o que condenar. As
conseqüências dos erros dos homens não transcendem essa vida, nem afetam mais
que suas próprias experiências. O Pai explica: “Não preciso castigar as pessoas
pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por
dentro.” O juízo de Deus nada tem a ver com punição, pois “julgar não é
destruir, mas consertar as coisas.” Esse conserto, como já vimos, não tem
relação com perdão e justificação, mas com a produção de um bom relacionamento.
O
autor sugere que Deus vê a condenação como uma expressão de injustiça. O
próprio Pai, ao falar de si, diz: “Não uso humilhação, nem culpa, nem
condenação. Elas não produzem uma fagulha de plenitude ou de justiça e por isso
foram pregadas em Jesus na cruz.”
ENCARNAÇÃO
E MORTE DA TRINDADE
Desconsiderando
as Escrituras, além da história e da teologia dos primeiros séculos da igreja
cristã e dos seus primeiros concílios, Young afeta a ortodoxia em relação à
Divindade em alguns pontos que dão margem a grandes distorções. Em vista de
Adão ter desvirtuado o relacionamento com Deus, as três pessoas da Trindade se
puseram no processo de reverter tais danos. O Pai conta a Mack: “Em vez de
varrer toda a Criação, arregaçamos as mangas e entramos no meio da bagunça. Foi
o que fizemos em Jesus... Quando nós três penetramos na existência humana sob a
forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos. Também optamos por
abraçar as limitações que isso implicava. Mesmo que tenhamos estado sempre
presentes nesse universo criado, então nos tornamos carne e sangue.” Com
isso, o autor afirma que a encarnação envolveu não só o Filho, mas o Pai, o
Filho e o Espírito Santo, os três encarnados no homem Jesus Cristo. No livro,
não apenas Jesus apresenta as marcas da crucificação, mas as compartilha com o Pai.
Mack, ao olhar para o Pai em sua aparição feminina, “notou as cicatrizes nos
pulsos na negra, como as que agora presumia que Jesus também tinha nos dele.
Ela permitiu que ele tocasse com ternura as cicatrizes, marcas de furos
fundos.” Ao olhar para as marcas da cruz de Cristo, o Pai disse a Mack: “Nós
estávamos lá, juntos.” Mais adiante Sophia alerta Mack: “Você não viu os
ferimentos em Papai [o Pai] também?... Ele escolheu o caminho da cruz, onde a
misericórdia triunfa sobre a justiça por causa do amor.” Essa perigosa
afirmação, que contrapõe a misericórdia à justiça como se fossem
inconciliáveis, também ressuscita uma antiga heresia de nome “patripassianismo”
que propõe que o Pai sofreu a morte na cruz. A diferença entre essa modelo
de patripassianismo e o antigo está no fato de o antigo propor a existência de
uma só pessoa divina que se mostra de modos diferentes, enquanto o modelo do
livro propõe a encarnação do Pai junto com o Filho no homem Jesus Cristo.
TEODICÉIA E TEÍSMO ABERTO
Teodicéia é o campo da Teologia que lida com a existência de um
Deus bom diante da realidade do mal, de modo a defender a “justiça de Deus”.
Young se propõe a isso. Para ele, Deus não é culpado por nenhum mal. Apesar de
acertar nessa tese, o erro de Young está em justificar Deus tirando‐o da
jurisdição onde o mal se apresenta. Quando Mack questiona o motivo pelo qual
sua filha teve que morrer, ouve a seguinte explicação: “Ela não teve,
Mackenzie. Isso não foi nenhum plano de Papai [o Pai]. Papai nunca precisou do
mal para realizar seus propósitos. Foram vocês, humanos, que abraçaram o mal, e
Papai respondeu com bondade.” Apesar de ser verdade que o mal é uma ação
de responsabilidade do homem pecador, o motivo apresentado por Young para
defender a justiça de Deus diante da maldade do mundo é sua “falta de
soberania”. Ao dizer que Deus não planejou a morte da menina, a inferência é
que “Deus não esta no controle”. Coisas acontecem sem Deus ter planejado ou
controlado, ao passo que eventos planejados por ele esbarram nos desejos e atos
pecaminosos de homens que frustram os planos divinos. Deste modo, Deus não é responsável pelo mal, mas
também não é soberano sobre a criação. Por isso, o Pai diz a Mack: “Eu crio um
bem incrível a partir de tragédias indescritíveis, mas isso não significa que
as orquestre. Nunca pense que o fato de eu usar algo para um bem maior
significa que eu o provoquei ou que preciso dele para realizar meus
propósitos.”
A
justificação de Deus por meio da usurpação da sua soberania, além de errada,
leva a um problema ainda maior: o Teísmo Aberto. Este nada mais é que uma forma
de Teodicéia levada até as últimas conseqüências. Ensina que se Deus limita no
uso de atributos como onipotência e onisciência a fim de resguardar a
liberdade humana. Por isso, o Pai diz a Mack: “Nós nos limitamos por respeito a
você... Os relacionamentos não têm nada a ver com poder. Nunca! E um modo de
evitar a vontade de exercer poder é escolher se limitar e servir.” “Nós
respeitamos cuidadosamente as suas escolhas e por isso trabalhamos dentro dos
seus sistemas, ao mesmo tempo que procuramos libertá‐los deles. A Criação foi
levada por um caminho muito diferente daquele que desejávamos.” Jesus
concorda com o Pai e diz: “Já notou que, mesmo que me chamem de Senhor e Rei,
eu realmente nunca agi desse modo com vocês? Nunca assumi o controle de suas
escolhas nem os obriguei a fazer nada, mesmo quando o que estavam fazendo era
destrutivo para vocês mesmos e para os outros?... Forçar minha vontade sobre
vocês é exatamente o que o amor não faz.” Sob esse olhar o Pai une a
Teodicéia ao Teísmo Aberto e defende sua justiça e amor diante do mal baseado
na sua autolimitação e no respeito à liberdade do homem, explicando: “Todo o
mal decorre da independência e a independência foi a escolha que vocês fizeram.
Se fosse simples anular todas as escolhas de independência, o mundo que você
conhece deixaria de existir e o amor não teria significado. O mundo não é um
playground onde eu mantenho todos os meus filhos livres do mal. O mal é o caos,
mas não tem a palavra final. Agora ele toca todos que eu amo, os que me seguem
e os que não me seguem. Se eu eliminar as conseqüências das escolhas das
pessoas, destruo a possibilidade do amor. O amor forçado não é amor.”
O QUE AS ESCRITURAS ENSINAM?
Em
contraposição às convicções de Young expostas no livro “A Cabana”, as
Escrituras afirmam que:
a) As
Escrituras foram inspiradas por Deus (2Tm 3.16), foram dadas pela vontade de
Deus através do Espírito Santo (2Pe 1.20,21), não contêm erros (Jo 10.35) e
apresentam Cristo a fim de salvar o perdido (Jo 20.30,31; Rm 1.16; 10.17; 1Co
1.21), de modo que desconhecer ou desprezar as Escrituras constitui um erro (Mt
22.29).
b)
Jesus é o fundador da Igreja (Mt 16.18; At 20.28). Ela tem a função de defender
e proclamar a verdade (1Tm 3.15; 1Pe 2.9) e promover a glória de Deus (Ef
3.21). Jesus, o dono de toda autoridade (Mt 28.18), concedeu aos discípulos a
autoridade de pregar a verdade e expandir a Igreja em obediência ao Senhor (Mt
28.19,20). Visto que a autoridade não é má e que é instituída por Deus (Rm
13.1,2), a Igreja também foi formada por ele com autoridades para que houvesse
edificação, correção e ensino (2Co 10.8; 13.10; Tt 2.15), assim como o lar (1Tm
2.12; 3.4‐5).
c) A
salvação e a reconciliação com Deus se dão única e tão somente pela fé em
Cristo (Jo 3.36; 6.47; Rm 5.1; 8.1; Ef 1.7). Não há outros meios de ter
comunhão com Deus (Jo 14.6; At 4.12; 1Tm 2.5) e não há meios de crer em Cristo
a não ser por meio da pregação do Evangelho (Rm 10.13‐15). Quem não crê em Cristo
como salvador permanece perdido e sobre ele permanece o juízo de Deus (Jo
3.18,36). O resultado de não crer em Cristo é ser julgado por Deus e condenado
ao afastamento e sofrimento eternos (Dn 12.2; Mt 7.23; 8.12; Hb 9.27).
d) Há
um padrão de conduta que deve ser seguido por aqueles que querem ter comunhão
com Deus (1Pe 1.16). A busca por esse padrão é tanto o objetivo e o dever dos
salvos (Jo 8.11; Rm 12.1‐2; Gl 5.22‐15; Fp 2.12; 1Jo 2.1), quanto a prova do
seu amor por Cristo (Jo 14.21; 1Jo 4.21). Deus disciplina seus filhos que se
desviam da busca da santidade a fim de voltarem a servi‐lo (1Co 11.32; Hb
12.4‐10).
e)
Cristo, ele apenas, encarnou para efetuar a obra da salvação recebendo nele o
castigo pelo pecado dos que crêem (Jo 1.14; Fp 2.5‐9; 1Tm 2.5). As outras
pessoas da Trindade 53 Ibidem, p. 113. interagiram na obra da salvação “não
encarnados” na pessoa do homem Jesus (Mt 1.20; 3.16,17; 16.17; 23.9; Mc 15.34;
Jo 14.26; 16.7).
f)
Deus é plenamente soberano sobre toda a história e sobre toda a criação (Sl
103.19; Dn 4.17,35; Mt 10.29). Sua vontade é sempre efetivada pelos seus atos
(Jó 42.2; Is 14.24,27; Ef 1.11). A soberania divina se faz sentir sobre a
humanidade (Pv 21.1; At 4.27,28; Rm 9.15‐18) e a vontade do Senhor não é
limitada pela vontade humana (Sl 33.10). Os decretos do Senhor são retos e não
há qualquer injustiça em Deus, na sua vontade e na aplicação do seu poder (Jó
40.1‐4; Rm 9.14,19‐24).
CONCLUSÃO
Essa
breve análise demonstra o quanto William Paul Young, em sua obra “A Cabana”,
está distante de ser um pregador da verdade ou um instrumento de propagação do
conhecimento sobre Deus e sobre o relacionamento com ele. O fato de “A Cabana”
encontrar acolhida dentro das igrejas cristãs revela duas tristes verdades: em
primeiro lugar, a falta de orientação bíblica adequada por parte dos pastores e
professores das Escrituras e, em segundo lugar, o pernicioso desejo de um
relacionamento com Deus que não envolva compromisso, autonegação, luta contra o
pecado e busca de santidade.
Além
disso, percebe‐se claramente a necessidade que os cristãos têm de avaliar os
ensinos de pessoas famosas e destacadas a fim de não serem alvos de erros
baseados na confiança em tais personalidades. O fato de Michael W. Smith,
músico e autor de canções bonitas, apesar de repetitivas e com uma teologia
rasa, dar seu aval ao livro, impresso na contracapa da edição em português, é
de fato assustador. Entretanto, mais assustador ainda é ler a declaração de um
escritor proeminente como Eugene Peterson, ao dar seu apoio a uma obra tão
perigosa quanto estranha aos ensinos bíblicos.
Nossa
oração ao Senhor é que o amor dos cristãos pela Palavra de Deus e pela
santidade prevaleça sobre o desejo de um sistema que autorize e encoraje vidas
sem submissão a Cristo.
Também
que pastores e professores das Escrituras se afadiguem ainda mais na exposição
da verdade do Evangelho que rende a Deus todo louvor, que apresenta Cristo como
único meio e salvação e que ensina ao homem sua posição diante do Deus eterno e
Todo‐Poderoso.
Pr. Thomas Tronco dos Santos
Hmm, engraçado... que quando lia pensava muita coisa oposto do que ele fala que faz transparecer na leitura, mas acho que talvez esteja certo.. hmm vou ter que relê-lo e ver por mim mesmo!
ResponderExcluiressa analise foi de grande importância pois só ao lermos o começo do livro, vemos que foge totalmente da Bíblia, nao me senti nada bem desde o começo lendo esse livro.
ResponderExcluirBy:Lucas