Produtos que não deveriam existir


Por Giuliana Capello
Publicado em 14/06/2011 - Site Planeta Sustentável

Você já parou para pensar na quantidade de produtos inúteis que são fabricados todos os dias, neste que é o século decisivo para o planeta? É impressionante – para não dizer desanimador. São contêineres e mais contêineres de quinquilharias, bobagens e mimos absolutamente dispensáveis que viajam oceanos até chegar a nós (muitos deles, por sinal, clandestinamente). E para quê? Sinceramente, alguns deveriam ser proibidos, banidos do mundo, extirpados da atmosfera (junto com as sacolinhas plásticas)...

Quer uns exemplos? É só ir a qualquer supermercado e dar um passeio pelo corredor do encantado mundo dos potes e presentes plásticos: tem porta-pizza (para um pedaço apenas); potes minúsculos para guardar, sei lá, duas azeitonas; espadas de super-heróis com balas açucaradas e barulho de...espada, é claro; suvenires fluorescentes para todas as ocasiões (não sei quando se precisa disso, mas...); enfim, um mundo de inutilidades que consomem recursos, emitem CO2 na atmosfera, aumentam nossa dependência do petróleo e não oferecem nenhuma contrapartida que compense sua existência.

Nas revistas em que escrevo, tenho muito contato com designers que estão preocupados com o futuro daquilo que eles colocam na Terra. Pensa comigo: o trabalho deles é criar, inventar produtos para “povoar” o planeta, lançar ideias que viram coisas compráveis. Uma responsabilidade e tanto, não? Fico imaginando o cara que resolveu, “num insight de mestre”, criar uma caneta em formato de bailarina e com um frufru na ponta. Não dá mesmo para viver sem isso?!

Felizmente, nem tudo está perdido e já tem muita gente refletindo sobre o excesso de produtos no mundo. Dias atrás fui visitar a exposição do Christian Ullmann, designer e consultor em sustentabilidade, lá no Museu da Casa Brasileira (aliás, recomendo). Com o nome Produtos Imperfeitos, a mostra convida o público a repensar uma série de hábitos de consumo automatizados, que repetimos sem pensar, dia após dia; ela resgata os produtos feitos artesanalmente por artífices como costureiras, sapateiros e serralheiros de bairro, além de peças que improvisamos (ou estudamos a valer) em casa, com o material que temos disponível.

Aliás, o faça-você-mesmo está – acredite – virando tendência nesse mundinho fashion do design. A onda agora é criar com as próprias mãos, a partir da necessidade e/ou da criatividade de cada um. Vale mais um produto imperfeito feito por você, que tem uma história para contar, do que uma peça espetacular, mas impessoal, produzida sabe-se lá por quem e sob que condições.

Com a ideia de não gerar restos ao final da mostra, Christian tirou proveito do ecodesign em tudo: uma poltrona com estrutura de metal reaproveitado, por exemplo, está exposta sem as almofadas e, no entanto, a legenda que apresenta a peça fala desses estofados. Onde eles estão? Sob a poltrona, ainda na versão tecido, cumprindo a função de revestimento da plataforma que sustenta o móvel. Quando a exposição terminar, ele será retirado e ganhará vida nova. Tudo para fazer o público pensar, desconstruir ideias velhas, ultrapassadas, fora do espírito do nosso tempo. Porque não dá mais para engolir futilidades que desdenham da saúde do meio ambiente...

Gosto de pensar que um dia - não muito distante, de preferência -seremos capazes de construir mecanismos que impeçam a fabricação de produtos banais que sugam a natureza do início ao fim de seu ciclo de vida. Quem sabe um dia, em breve, possamos ser mais ativos em relação às ações da indústria, seja ela do tamanho que for. Como consumidores que somos, temos a faca, o queijo e o planeta nas mãos. Parar de comprar papai Noel dançante e aplicativos inúteis para o seu tablet é um primeiro passo, sem dúvida
alguma. É tempo de usar energia de forma consciente. Chega de desperdício.

Giuliana Capello é jornalista ambiental e permacultora pelo Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica. É colaboradora das revistas Arquitetura & Construção, CASA CLAUDIA e BONS FLUIDOS. Formada em design de comunidades sustentáveis (Global Ecovillage Educators for a Sustainable Earth), faz parte da Ecovila Clareando, onde está construindo sua futura morada. Neste blog, conta histórias e experiências que mostram que é possível ter uma vida mais simples - e nem por isso menos gostosa e divertida.

Comentários

  1. Me gusta su blog. Vivo en los Estados Unidos. Estamos tratando de hacer la misma cosa.

    Hay un EcoVillage en mi ciudad tambien.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas