Carta aberta ao Senhor da minha vida


Deus,

Desde que me entendo por gente, sempre considerei verdadeira a famosa máxima “crescer dói”. Fico feliz em discordar dela, pelo menos até esse ponto da minha vida, porque pra mim crescer sempre foi um grande prazer. Não posso afirmar que nunca houve maus momentos, mas também não posso dizer que tive uma infância traumática, uma pré-adolescência perdida, ou uma adolescência perturbada e rebelde. Minha infância, apesar de contaminada pela cultura urbanesca, foi muito bem brincada, gritada, subida, pulada, viajada, sonhada, fantasiada, suada, amada e cuidada. Meus hábitos foram mudando à medida que eu aprendia coisas novas e ficava mais independente. Minha adolescência foi o florescer da minha autoconsciência e o pontapé para a futura busca por meus interesses e pela realização de meus sonhos. Aprendi a pensar, estudar, refutar, digerir livros ao invés de engoli-los. Todas as transformações pelas quais passei foram, pela Sua graça, desenvolvidas num ritmo suave, sem solavancos e com muito poucas pedras no caminho.

E é por isso, pelo meu crescer, que escrevo esta carta aberta a Quem me colocou onde hoje me encontro; me fortaleceu para que aqui eu estivesse; me criou para que essa carta existisse e me deu tudo que tenho, inclusive a razão de viver.

Por onde começar, Deus? De onde tirar meus primeiros agradecimentos, sendo que são tantos, e tão mais infinitos aqueles que vêm pelos planos que ainda desconheço? Ora, comecemos então pelo começo... pelo menos o meu começo...

Agradeço pela minha eterna morada, a mim reservada desde que o Senhor contou meus dias e os escreveu no Seu livro. Sem dúvida é o maior presente que eu poderia ganhar e veio antes mesmo do ar que respirei pela primeira vez. E como eu não havia realizado nada ainda, não seria prepotente a ponto de me julgar merecedor de tal presente. Que bom que não tenho dúvidas quanto à incomprabilidade da salvação eterna.
Agradeço pela minha mãe, que foi a primeira casa em que morei. Agradeço o amor com que me criou, a disciplina com a qual me educou, as mãos que me alimentaram, cobriram, vestiram, limparam, bateram, consolaram. As ordens e broncas para o meu bem que precederam os sábios conselhos para o mesmo fim. Agradeço por essa irmã e amiga, minha companheira de atividades e de oração, minha discipuladora, minha melhor professora.

Agradeço pelo meu pai, molde com que tirei meu nariz de palhaço, minha virilidade, meu exemplo de trabalhador, de provedor, de um homem que zela pela família e que sempre fez tudo ao seu alcance para garantir o bem dela. Agradeço pela firmeza na liderança de nossa casa e pela equipe que somos com ele.

Agradeço pelos anjos em minha vida: Vovó Lili e Tia Fênix, que não só muito me bajularam, mas que sempre estiveram atentas a cada passo meu, dispostas a fazerem o possível e até o impossível para me verem feliz.

Agradeço pela minha família espalhada por esse país maravilhoso: São José dos Campos, Paraguaçu, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e pelos demais gatos pingados por aí afora.

Agradeço pela minha saúde, que sempre me permitiu fazer todo tipo de esporte, brincadeira e tantas outras coisas. Agradeço pelo meu corpo que, a não ser por alguns pequenos ajustes, está em perfeitas condições e muito me ajuda na tarefa de viver.

Agradeço pela minha mente, sã até onde eu sei, dá pro gasto nas humanas, sabe seu rumo nas biológicas e patina graciosamente desastrada nas exatas. Agradeço pelos presentes que são a música, as artes, a literatura e o mundo das idéias, meu playground cada vez mais freqüentado.

Agradeço pelos meus amigos: fonte inesgotável de alegrias, memórias, aprendizado, noites mal dormidas e dias impecavelmente aproveitados. Parceiros no combate ao tédio, à solidão, à depressão –pós-pé-na-bunda e a tudo quanto há de ruim.

Sou grato pela minha igreja em Goiânia, que me acolheu desde um pecador-mirim gorduchinho até hoje, me ensinando lições que vão além deste mundo, além desta vida. Mais grato ainda sou pela grande igreja invisível, meus irmãos na fé espalhados por todo o mundo, eternos companheiros, família não de sangue, mas por sangue.

Sou grato pelo IPÊ, colégio que me treinou pra vida, educação para Cristo que sem sombra de dúvida fez a diferença. Construiu muito do que sou, e é um abrigo no deserto educacional do mundo contemporâneo.

Sou grato por cada professor que tive, do maternal ao ensino médio, cada qual contribuindo para formar um pedacinho de mim. Agradeço a paciência prodigiosa e a energia gasta pra que me segurassem quando pequeno, a sabedoria e o tato que tiveram para tratar do reizinho que eu tinha na barriga quando menino, a mão firme e os princípios a mim passados para tratar o mesmo reizinho pré-adolescente ainda crescendo na minha barriga de moleque e o empenho altruísta dos meus professores de pré-vestibular que tanto me auxiliaram naquela fase cansativa, mas decisiva.

Obrigado pelas orações respondidas, mesmo por aquelas que não saíram como eu planejava. Que bom que não!

Obrigado pela Sua soberania e pela PAZ vinda de mãos dadas com ela, essa paz que ninguém mais poderia trazer.

Obrigado pela Sua proteção e força nos momentos difíceis. Obrigado pelos infinitos livramentos que eu nem cheguei a notar mas os quais eu tenho certeza que acontecem a cada instante.

Obrigado pela Sua palavra que nunca falhou em me guiar os passos.

Obrigado pelo Seu perdão que não tem tamanho.

Obrigado pela honra insondável que é ser chamado filho Seu, que é tão maior quanto mais eu vejo minha incapacidade de levar tão poderoso nome.

Obrigado pelas portas abertas até agora, valeu pelo voto de confiança. Obrigado pela oportunidade de honrar Seu nome na universidade. Sei que tenho muitos desafios a frente, mas não tenho medo, porque sei que Você está comigo.

E é por essa certeza e por tudo mais que o Senhor tem planejado pra mim, que digo este último OBRIGADO.

Abraços do filho mimado, Paulo Ricardo.


Carta em gratidão a Deus de um adolescente (18 anos) de Goiânia. Ele passou no vestibular da UNB para comunicação social/jornalismo.

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