Submissão



“Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte.” (1Pe. 5.6).
Desde que Adão e Eva estenderam as mãos para o fruto proibido que o homem tem tido sérios problemas com a liberdade. O que fazer com ela? O que é possível fazer e o que é lícito fazer? Possibilidade e dever vivem se “estranhando” nos mais variados campos, sobretudo nos campos do direito e da ciência, onde o entrave moral e ético parecem mais gritantes. O homem reclama uma autonomia radical, sem limites, a não ser o da própria consciência. Não aceita, não suporta submeter-se a um ser que lhe seja superior, no caso Deus, e nem mesmo a qualquer instituição que guardando e defendendo padrões morais estabelecidos, possa de alguma maneira limitar a sua liberdade. O filósofo Górgias (+- sec 7 A.C) se vivesse hoje testemunharia uma defesa apaixonada de seu aforisma: “O homem é a medida de todas as coisas.” Todavia, já no paraíso, antes de conhecer o pecado, nem mesmo Adão, reto e justo, e Eva, santa e imaculada, possuíam pleníssima liberdade. A proibição de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal lhe indicava exatamente o seu lugar, a sua condição de criatura e não de deuses. Só Deus é perfeitamente livre e o homem será a mais livre das criaturas não fazendo o que lhe dá na telha, mas participando da liberdade de Deus na submissão a Ele, às suas leis e vontade. Portanto, é exatamente nesse paradoxo da submissão que o homem experimenta o que significa ser livre e feliz. As Escrituras nos revelam que não há esta pretensa neutralidade que leva o homem a ser senhor de seu destino. Ou somos submissos a Deus e as suas instituições, com responsabilidade, com liberdade de escolha e de entrega, ou somos escravos do pecado, dos vícios, dos apetites da carne, das seduções do mundo que podem se manifestar de muitas e variadas formas. A sedução do prazer sexual desregrado, a sedução das riquezas e do consumismo escravagista, a sedução do poder e aqui entram as ideologias políticas cujo fim e o deus é o lucro e o mercado e etc. Há ainda a sedução de nossa natureza decaída, ensimesmada, ególatra e narcisista que deseja ser feliz a todo o custo, sem regras nem limites sob a ditadura do relativismo e do descartável. Nada é absoluto ou para sempre. Vinícius de Moraes expressou bem esta marca de nossa cultura: “Que o amor seja eterno enquanto dure.” A submissão é uma disciplina tão imprescindível para o cristão como a leitura e meditação da Bíblia. Aliás, de que adiantaria a leitura piedosa das Escrituras se não houvesse acatamento de seus ensinamentos? Nisto exatamente consiste a submissão, na pronta obediência e na firme disposição do coração em deixar-se guiar, ensinar e conduzir pela mente e vontade de Deus expressas nas Escrituras. A Palavra submissão significa esta debaixo da Missão, ou seja, significa estar debaixo de um plano, de um projeto estabelecido por Deus para que sejamos felizes como Ele é indizivelmente feliz. A Missão de Deus, ao criar o universo e nele colocar o homem como seu vice-Rei, é para que este homem possa compartilhar desta vida indefectível, deste amor incomensurável, desta paz indestrutível e desta gloriosa vida feliz que só Deus possui. Doutra sorte, buscando a felicidade por nossa própria conta e estabelecendo, segundo a nossa inteligência e vontade, o que desejamos e queremos alcançar para sermos felizes, desprezando a Deus, logo nos deparamos com a caducidade e a fragilidade de tudo quanto existe. O materialismo, a vida medida e vivida na busca de felicidade nos afetos e nos bens não gera completude e satisfação, mas niilismo, aquele estado de espírito que não que saber de nada, não se importa com nada, não gosta e não está realizado com nada, não encontra propósito em nada e só continua vivo porque não há nada que o leve a morrer. A submissão a Deus faz ver sentido, propósito, gozo em todas as coisas boas, lícitas, justas, nobres e verdadeiras. E justamente nelas é que encontramos a felicidade. Continuamos a semana que vem.
Luiz Fernando
Pastor da Igreja Presbiteriana Central de Itapira

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